sexta-feira, 22 de março de 2013

Encantos e desencantos de um jornalista imortal

Por Mariana Eli

Mário Pereira: “A profissão é dura, meus amigos,
mas recompensa”
“Nós somos os historiadores do presente”. O jornalista Mário Pereira descreveu desse modo o trabalho do profissional da sua área diante do público para o qual lecionou por muitos anos, os alunos do Curso de Jornalismo da Unisul da Grande Florianópolis. Esse senhor alegre, de raízes gaúchas, que há quase 30 anos adotou Florianópolis como morada, tem gosto de transmitir o seu conhecimento como jornalista e escritor tanto quanto teve nos anos em que atuou como professor, sempre “encantado com a sala de aula”.

Editorialista de opinião do Diário Catarinense e imortal da cadeira oito da Academia Catarinense de Letras, da qual também é vice-presidente, Mário Pereira se recusa a enfrentar o engarrafamento da cidade e por isso trabalha em casa, mesmo depois de aposentado. Autor de 10 livros, formou-se em direito no Rio Grande do Sul e iniciou na carreira de jornalista a convite de um amigo de sua família. Seu primeiro emprego na área foi na redação do então recém-formado jornal Zero Hora, na década de 1970. Segundo ele mesmo, ao longo de sua carreira “fez praticamente tudo que alguém pode fazer em jornal até hoje”.

Seu desgosto pelo modo de fazer jornalismo nos dias atuais ficou evidente ao mencionar que as redações “têm mais equipamentos e tecnologias embargadas do que talento”.  Arrematou ainda que “essas máquinas esfriam o trabalho”, e que há falta de “gente e vida inteligente dentro das redações”. Criticou, ainda, o modo como os textos estão sendo estruturados de forma repetitiva nos periódicos atuais, com a mesma maneira de abrir as matérias (lead, no jargão jornalístico) ou de desenvolver o conteúdo.

Rindo dele próprio ao perceber que o óculos que procurava estavam sobre a cabeça, observou que a criatividade está na simplicidade. “Temos que saber escrever o que é relevante”. Desse jeito sincero e bem-humorado, o jornalista que tem como companheiros o sr. Ernesto Hermigway e o sr. Eduardo, seu gato e seu cão, respectivamente, ensinou também que “só podemos falar daquilo que conhecemos” e que, antes de qualquer coisa, um jornalista tem que ter paixão e prazer pelo que faz.

Na conversa com os futuros jornalistas, falou sobre suas práticas diárias e algumas regras básicas para um bom profissional conseguir se guiar. Com um olhar mergulhado no passado, contou histórias sobre como elaborou algumas das principais matérias, provocando algumas risadas pelo tom nostálgico e maravilhado que passou sobre tudo que viu, ouviu e escreveu. “A profissão é dura, meus amigos, não é fácil, mas ela recompensa muito, não em termos de dinheiro, mas em termos de realização”, brincou, ao comentar sobre um curto período em que apresentou um programa de televisão, em Porto Alegre. Nessa época, precisava mergulhar a cabeça em um balde de água gelada para desinchar o rosto, pois tinha que se levantar muito cedo para conseguir chegar em tempo ao trabalho.